China é o maior consumidor de bordeaux

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Chineses compraram quase 20 milhões de vinhos bordaleses, no valor de US$ 118 milhões, em 2010, segundo o Conselho Interprofissional do Vinho de Bordeaux

 

Nunca os chineses compraram tanto vinho. E não é qualquer vinho. Tem que ser vinho francês. E não é qualquer francês. Tem que ser um bordeaux famoso - de vez em quando, pode ser um borgonha. Para as pessoas no resto do mundo, isso significa que ficou mais caro tomar vinho francês. Para os produtores da França e para as grandes casas de leilão e exportadores, é uma festa.

 

Segundo o Conselho Interprofissional do Vinho de Bordeaux (CIVB), organização privada mas ligada ao Ministério da Agricultura da França, em 2010 a China se tornou pela primeira vez o maior importador de vinhos da região. Os chineses compraram US$ 118 milhões só em vinhos bordaleses no ano passado. Em volume, foram quase 20 milhões de garrafas.

 

As grandes casas de leilão, como Sotheby's e Christie's, estão exultantes e bateram recordes de vendas para o mercado chinês.

 

Dos US$ 88 milhões em vinhos vendidos pela Sotheby's em 2010, a filial de Hong Kong respondeu por US$ 52 milhões.

 

Embora haja compradores de outros países em Hong Kong, quase metade das compras foram feitas por lances vindos da China continental.

 

E mais de 75% das vendas para a Grande China (Hong Kong, Taiwan e China continental) foram vinhos bordaleses, seguidos de longe pelos da Borgonha. A compra de vinhos de outras partes do mundo vem em um bem longínquo terceiro lugar.

 

A Christie's teve resultados semelhantes ao de sua concorrente.

 

"Os mercados asiáticos, principalmente o chinês, está consumindo o melhor da produção francesa. E os chineses estão comprando principalmente para o uso, não para a formação de adegas ou como investimento de longo prazo", afirma David Elswood, diretor do setor de vinhos da Christie's. "Eles se concentram em um espectro limitado de marcas: os premiers crus de Bordeaux imperam", diz.

 

José Luis Hermoso, da consultoria International Wine and Spirit Research (IWSR), de Londres, diz que a imagem de sofisticação do vinho francês, em especial da região de Bordeaux, dá a essa bebida uma vantagem competitiva enorme.

 

Os empresários chineses adotaram os premiers crus para "lubrificar os negócios". Quando um grande contrato é fechado, obrigatoriamente um château é aberto. Há casos engraçados.

 

Um banqueiro de investimentos brasileiro com experiência no mercado chinês disse que já viu em Xangai executivos tomarem vinhos franceses caríssimos colocando pedras de gelo ou "até mesmo em um gole só, como se fosse uma dose de cachaça barata".

 

Uma outra faceta curiosa do país é a predileção pelo Château Lafite. "Ouvi dizer que ele preferem o Lafite porque é o premier cru mais fácil de pronunciar para o chinês", diz o banqueiro brasileiro.

 

Sendo esse o motivo ou não, os chineses não estão economizando com o fetiche. Em outubro, a Sotheby's vendeu em Hong Kong uma garrafa de Château Lafite da safra 1869 por US$ 232,692 mil. Foi o maior valor pago na história por uma garrafa padrão, de 750 ml.

 

Um negócio semelhante só havia sido visto nos idos pré-crise. Em fevereiro de 2007, uma garrafa de 4,5 litros do Château Mouton Rothschild 1945 havia sido vendida por US$ 310 mil, em Nova York.

 

Também é emblemática essa comparação. O negócio feito em Nova York ocorreu antes da crise financeira americana. No ano seguinte, 2008, os americanos compraram 40% menos vinhos de Bordeaux. Os preços dos bordaleses caíram 20% então. Seria um desastre para os produtores da região francesa, não fosse a explosão do mercado chinês. Em 2009, as importações chinesas cresceram 97% em relação ao ano anterior. No ano passado, o crescimento foi de 50%.

 

Hoje, os preços dos vinhos bordaleses já estão acima dos patamares pré-crise. Um Château Lafite 2005 - uma grande safra - é encontrado no Brasil por cerca de R$ 6 mil; em 2008, ele poderia ser comprado por R$ 4,5 mil. Analistas entretanto temem inclusive que os chineses estejam provocando uma "bolha do vinho". Vai depender da sede dos bebedores de Xangai, Hong Kong e Shenzhen.

 


Veículo: Valor Econômico


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