No epicentro da crise econômica mundial, o mercado americano resiste em deixar velhos hábitos. No país, que tem tradição no consumo de uísque, a venda de destilados continua maior que a de cervejas - uma bebida mais barata que, em tese, poderia ter vendas maiores nessa época. "Mas o mercado de consumo não age sempre dentro do que seria lógico e as vendas de destilados nos Estados Unidos continuam a ser superiores que as de cerveja", afirma João Valli, consultor da britânica Bernstein Research.
Trata-se de um cenário bastante diferente do que a AB InBev, por exemplo, está observando na China - o maior mercado mundial de cerveja. Segundo o principal executivo de marketing da AB InBev, Chris Burggraeve, os consumidores chineses estão deixando de tomar bebidas destiladas, mais caras, como o conhaque, para consumir cerveja.
"Os efeitos da crise são diferentes em diferentes mercados", afirmou Burggraeve, em visita recente ao Brasil. João Valli concorda. "Na China, os destilados são caríssimos, na maioria importados, e quem começou a tomar conhaque embalado pelo crescimento da economia do país nos últimos anos pode ter deixado o hábito de lado", diz Valli.
Não por acaso, nos Estados Unidos, segundo a Bernstein Research, a venda de cervejas importadas está em declínio. De qualquer forma, chama a atenção o sucesso da premium Bud Light Lime, um lançamento de 2008 da Budweiser (antes da fusão com a InBev), que vem puxando as vendas da categoria no país. "Pode estar relacionado aos investimentos em marketing do lançamento", diz Valli.
No entanto, em alguns pontos o comportamento do consumidor americano é muito semelhante ao do brasileiro. De acordo com relatório da Bernstein Research, em meio à recessão e à falta de crédito, o americano está aumentando o consumo em casa, no lugar de bares de restaurantes. Faz mais sentido pagar menos pela bebida na mercearia e tomá-la em casa do que gastar mais para consumi-la na esquina mais próxima.
Veículo: Valor Econômico