Cruzamento gera tomate roxo que não é transgênico

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Fruto produzido por equipe da USP tem mais substâncias antitumores

Planta é o resultado de hibridização de três espécies e já pode ser testada no campo por empresas brasileiras

Um tomate roxo, com mais antioxidantes do que o tomate comum (o que ajuda na prevenção de doenças como o câncer), está mais próximo da mesa do brasileiro.
A variedade foi desenvolvida na USP de Piracicaba após uma sequência de cruzamentos -método tradicional para criar formas novas e úteis de plantas domésticas.
Tomates roxos não existem na natureza. Até hoje, somente cientistas britânicos tinham conseguido produzi-los, com a ajuda de modificações genéticas.

Agora, o pesquisador Lázaro Eustáquio Pereira Peres, do Centro de Energia Nuclear na Agricultura da USP, mostrou que também é possível desenvolver um fruto desses sem que ele seja geneticamente modificado.

"É um tomate comum, mas agrupamos características de três variações em uma só."
Como resultado, o tomate, que é naturalmente rico em licopeno, um antioxidante, ganhou maior concentração de antocianina, outra substância que ajuda a desacelerar o crescimento de células de tumores.
Segundo ele, a variedade tem também o dobro do teor de vitamina C encontrado em um tomate comum.

Para obter o tomate roxo, o pesquisador e seu orientando Gabriel Rehder cruzaram duas espécies de tomate portadoras de mutações que fazem com que o fruto, quando exposto à luz em excesso, produza antocianina.

Já a terceira espécie tem um gene que a sensibiliza à luz. Juntos, os três estimulam a produção do pigmento antioxidante, que leva à cor característica do novo fruto.
"Apesar de as mutações serem comuns na natureza, esse cruzamento específico seria improvável", diz Peres.

A variedade já pode ser plantada em campo por empresas de melhoramento genético e, se houver apelo comercial, chegar à mesa em cerca de três anos.
Para garantir os direitos sobre a criação, a equipe da USP usou um tomate híbrido. As plantas da primeira geração são homogêneas, mas não as da segunda. O produtor teria de comprar a semente original para obter o tomate roxo.


Cor de variedades já provocou polêmicas

Diferentemente do que ocorre com transgênicos, alimentos produzidos por mutagênese (geração de mutações), como o tomate roxo brasileiro, não precisam de aprovação da CTNBio (Comissão Técnica Nacional de Biossegurança, órgão regulador do tema no Brasil).

Para o presidente da entidade, Edilson Paiva, isso não significa, no entanto, que eles sejam necessariamente mais seguros que os demais.

"Para a produção de transgênicos há uma série de normas e legislação pesada, o que é necessário, mas acho que também deveria haver algo para as mutações", diz.
Já o pesquisador do Núcleo de Economia Agrícola do Instituto de Economia da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), José Maria da Silveira, acha que "a solução [encontrada para desenvolver o tomate roxo] é válida e bem-vinda", mas destaca que seria importante haver um acompanhamento para garantir que produtos como ele sejam seguros.

Peres rebate dizendo que o efeito e a função de cada mutação, no caso do tomateiro, já são conhecidos. Além disso, segundo ele, as mutações criam apenas variações de genes preexistentes. Por outro lado, em transgênicos, são colocados juntos genes de espécies muito diferentes, que jamais se encontrariam.

GUERRA DAS CORES

Como o tomate roxo mostra, a cor está longe de ser um aspecto decorativo da planta. Em muitos casos, ela sinaliza a presença de nutrientes importantes. Esse é o caso de um dos alimentos transgênicos mais polêmicos de todos os tempos, o "arroz dourado" bolado por Ingo Potrykus, do Instituto Suíço de Tecnologia, e Peter Beyer, da Universidade de Friburgo.

Descrito em artigo na prestigiosa revista "Science" no ano 2000, o arroz dourado contém beta-caroteno, pigmento que é precursor da vitamina A e não está presente naturalmente nos grãos.

Com isso, os criadores do cultivar transgênico propunham que ele poderia ser uma arma contra a cegueira provocada por deficiência de vitamina A, problema comum em países asiáticos que têm o arroz como base da dieta. Ativistas ambientais são contra a iniciativa, que enxergam como 'cavalo-de-troia' dos alimentos transgênicos.
(MR)


Veículo: Folha de S.Paulo


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