Ainda sem concorrência nacional, valores assustam até comerciantes
Nectarinas, pêssegos e mirtilos abrem no varejo a temporada das frutas típicas do fim de ano, em meio ao cenário perigoso para os preços desenhado pelo clima quente e seco que costuma prejudicar a oferta. Os primeiros carregamentos que chegaram há 15 dias no atacado do entreposto da Ceasa Minas, em Contagem, na Grande Belo Horizonte, indicam o mesmo custo alto do ano passado de entrada desses itens para o consumidor. O quilo da nectarina foi negociado a R$ 5,01 pelo produtor, ligeiramente acima da média de R$ 4,96 apurada na quinzena de referência em setembro do ano passado, conforme levantamento feito pela Seção de Informações de Mercado da Ceasa Minas.
O pêssego importado reina com pouca oferta do produto nacional, por enquanto, ao preço de R$ 5 por quilo na negociação entre atacado e varejo e a néspera, que foi negociada a R$ 15,93 por quilo no atacado, é encontrada nos sacolões e nos mercados ao redor dos R$ 10 em bandejas de 500 gramas. Atraído pelo cheiro e as cores mais vibrantes do ano nas bancas de hortigranjeiros, o cliente deve resistir à tentação e aguardar pelo menos até meados de outubro, tempo de safra, quando os preços tendem a ser mais favoráveis, alerta Ricardo Martins, chefe da Seção de Informações de Mercado da Ceasa Minas.
“Se o consumidor esperar, com certeza terá mais opções de frutas de qualidade e preços melhores”, afirma. Os próprios distribuidores começaram a comprar com bastante cautela. Na Crol Comercial, o diretor Edgar Ochi se surpreendeu ao cotar a caixa de quatro quilos de cereja chilena numa importadora de São Paulo a R$ 180. A nectarina espanhola foi encontrada a R$ 40 por caixa de 9kg. “Estamos apenas no começo da safra, as frutas estão miúdas e é preciso esperar porque o clima dita muito os preços”, diz Ochi.
Outro fator que a dona de casa não pode perder de vista é que, se as regras de mercado do ano passado valerem agora, o ingresso da safra brasileira de pêssegos e ameixas tende a conter os preços no varejo. O pêssego nacional foi negociado no atacado em outubro e novembro de 2011 entre R$ 2,50 e R$ 3 por quilo no atacado, quer dizer, até metade das cotações do importado.
No Mercado Central de BH, o comerciante Antônio Julião, dono da Barraca do Patureba, já oferece a opção do pêssego paulista por R$ 9,90 o quilo, mas espera preços mais baixos assim que puder negociar com farta oferta da fruta. “Nos últimos anos, a oferta tem sido sempre boa. Se não enfrentarmos efeitos fortes do clima nas lavouras, o consumidor poderá pagar R$ 6 pelo quilo do pêssego no Natal e R$ 7,50 pelo quilo da ameixa graúda”, diz.
Paciência
A oferta de mirtilo é outro bom exemplo do que a concorrência pode fazer pelo consumidor. A embalagem de 125 gramas da fruta argentina é vendida a R$ 10. O produto brasileiro foi ofertado em novembro do ano passado na casa dos R$ 7 a R$ 8. Atentos ao orçamento que pretendem definir para o fim de ano, o marceneiro Carlos Alberto Silva, de 30 anos, e a mulher Ana Paula, de 18, observaram os preços das frutas na tarde de ontem e concluíram que a lista de compras terá de ser enxuta. “Se os preços não diminuírem até o fim do ano, a solução vai ser selecionar e pesquisar muito”, afirma Silva.
Ana Paula conta que chegou a encontrar ameixa importada a R$ 18 no começo do ano, acima do dobro do que pagou pelo quilo no Natal passado. O vendedor Carlos Nicolau de Andrade, da Frutas Procópio, empresa também instalada no Mercado Central de BH, conta que, apesar da preocupação com o bolso, boa parte dos clientes tem feito questão de uma oferta de qualidade, fator mais importante para eles do que o preço. Resta saber como será o comportamento nos próximos meses.
Veículo: Estado de Minas