As lacunas deixadas pelo fechamento de lojas das grandes varejistas podem ser oportunidades importantes de crescimento para empresas menores. Com a economia em desaceleração, os três maiores grupos que atuam no Brasil - Pão de Açúcar, Walmart e Carrefour, que juntos faturaram mais de R$ 114 bilhões no País em 2012 - fizeram alterações em suas estratégias de mercado.
Esse redirecionamento pode render até novos pontos comerciais para pequenas e médias companhias. O acontecimento mais recente envolve o Walmart. A empresa anunciou o fechamento de até 25 pontos de venda ainda este ano no Brasil, em geral das bandeiras Maxxi Atacado e Todo Dia. Apenas dois hipermercados terão suas atividades encerradas, ambos localizados no Rio de Janeiro.
Para o coordenador do núcleo de estudos do varejo da ESPM, Ricardo Pastore, operações fechadas podem ser interessantes para concorrentes, sobretudo as menores. "Quando as empresas grandes abrem mão de certos mercados que talvez não sejam tão atrativos, outras redes se beneficiam, em especial as pequenas e médias", argumenta.
O especialista cita outros episódios semelhantes. "Algumas empresas regionais praticamente surgiram quando o Carrefour fechou operações no Rio de Janeiro, caso da Prezunic (que hoje pertence à chilena Cencosud). O mesmo ocorreu quando o Grupo Pão de Açúcar (GPA) teve que fechar quase 800 lojas nos anos 90, e muita gente se beneficiou dessa reestruturação."
A atitude tomada recentemente pelo Walmart é algo recorrente e natural no setor, explica Pastore. Para ele, o cenário atual é de reposicionamento das companhias. "Há um movimento dos três grandes players do Brasil para ter ganhos operacionais. O líder varejista global (Walmart), o vice-líder (Carrefour) e o sétimo maior (GPA com Casino) estão promovendo ajustes internos e estratégicos para não perder espaços que conquistaram no mercado e também conquistar novos."
De acordo com presidente do conselho do Programa de Administração do Varejo (Provar) e Instituto Brasileiro de Executivos de Varejo e Mercado de Consumo (Ibevar), Claudio Felisoni, esse novo posicionamento das marcas pode resultar em mudanças nos aportes de 2014. "Deve haver mais investimentos em operações já abertas. As rentabilizarão ainda mais aquelas em que já possuem vantagens."
Para Felisoni, no entanto, o fechamento de lojas não acarreta em vantagens para redes menores. "Se estão fechando operações é porque os pontos de venda não estão totalmente adequados, provavelmente porque um outro concorrente domina a área. Não acredito que um pequeno terá melhores oportunidades", explicou.
Segundo o sócio sênior da consultoria GS&MD - Gouvêa de Souza, Alberto Sorrentino, o varejo está tendo que se adaptar como um todo ao atual momento. "Tivemos dez anos com o setor crescendo em ritmo muito superior ao Produto Interno Bruto (PIB). Esse ciclo se esgotou: vamos continuar crescendo, mas em ritmo moderado."
A consultoria estima que o varejo em 2013 tenha a menor taxa de crescimento da última década, com variação entre 4% e 4,5%. Para Sorrentino, "deve haver uma desaceleração na expansão. A abertura de lojas deve continuar, ainda que em ritmo menor, e lojas deficitárias podem ser fechadas, focando naquelas com melhores possibilidades no curto prazo."
Líderes reduzindo custos
A política de enxugar despesas e cortar operações deficitárias é visível nas ações das três grandes varejistas. Em teleconferência com investidores, o presidente do Grupo Pão de Açúcar, Enéas Pestana, destacou que "o macrocenário está aí para todo mundo".
Segundo Pestana, o GPA "continuará exercendo uma competitividade mais agressiva para ganhar market share e volume de vendas, mas sem comprometer a rentabilidade". O presidente ressaltou que haverá um controle efetivo de despesas, que "não é uma estratégia do ano 2013, é uma estratégia que vem para ficar porque garante saúde do negócio em diferentes formatos".
O GPA Alimentar, que engloba as marcas Pão de Açúcar, Extra e Assaí, teve um aumento de 29% no lucro líquido durante o terceiro trimestre ante o mesmo período de 2012, totalizando R$ 176 milhões. No GPA Consolidado, que também envolve as operações de e-commerce, a Casas Bahia e o Ponto Frio, houve avanço de 69,8% no lucro líquido, totalizando R$ 357 milhões. Ao todo, foram inauguradas 20 lojas entre julho e setembro.
Mesmo após anunciar o fechamento de 20 a 25 lojas nos próximos meses, o Walmart manteve a meta de encerrar 2013 com 22 novos pontos de venda e 40 reformas em já existentes. Conforme apurou a reportagem do DCI, a maioria é no formato de hipermercados Walmart e alguns da bandeira Maxxi Atacado.
Já o Carrefour anunciou que, excluindo o efeito cambial, a receita cresceu 8,6% entre julho e setembro ante 2012. A multinacional francesa não informou valores da operação brasileira.
Veículo: DCI