Ações ligadas à sustentabilidade estão entre as prioridades das grandes redes do varejo, mas integradas ao negócio. Ideia é fidelizar clientes e, ao mesmo tempo, reduzir custos e otimizar as operações
Substituição de sacolas plásticas por retornáveis, programas de reciclagem, lojas verdes, redução de consumo de recursos naturais e eficiência energética, programas de preservação de floresta e de rastreabilidade da cadeia produtiva. A lista de intenções em relação à causa verde não para de crescer no Carrefour, Grupo Pão de Açúcar e Walmart, as principais redes de supermercados do país. O contato direto com o consumidor faz com que essas gigantes do varejo tenham de mostrar, na prática, o que estão fazendo para preservar o planeta. Nasce daí uma competição de iniciativas em prol do meio ambiente.
O mote, além de ajudar a conquistar a clientela, serve de parâmetro para outras redes menores, num modelo em que todos ganham: meio ambiente, clientes e empresas. O mais empenhado na bandeira ecológica, o Walmart estabeleceu a sustentabilidade como uma meta estratégica mundial em 2005 que está sendo aplicada em todos os países onde atua.
“Hoje, a sustentabilidade é parte da nossa forma de fazer negócio e está presente em todas as áreas da empresa”, afirma Christiane Urioste, diretora de sustentabilidade do Walmart. Ela se refere a ações na compra dos produtos, projetos com os fornecedores, construção de lojas, redução de consumo de energia e de emissão de poluentes e redução de embalagens.“Acreditamos que iniciativas para reduzir o impacto ambiental direto da operação das lojas ainda são poucas, comparado comomuito que é possível fazer para a mobilização de consumidores e fornecedores e a transformação que traz para a sociedade”, diz Christiane. Processo evolutivo “As pessoas estão falando sobre sustentabilidade agora, mas o Pão de Açúcar tem essa preocupação há muito tempo”, diz Paulo Pompílio, diretor de relações corporativas e responsabilidade socioambiental do grupo. “Há dez anos começamos nosso programa de coleta de resíduos e fomos pioneiros no uso de energia renovável proveniente de usina de biomassa e pequenascentrais hidrelétricas (PCHs).”
Pompílio lembra que o estágio atual de ações tanto do Pão de Açúcar como das outras redes de supermercados é resultado de um processo evolutivo. “Passamos da filantropia para a assistência social, daí para ações com foco no cliente e atividades de conscientização dos consumidores e, mais recentemente, para operações relativas ao negócio, como a abertura de lojas verdes, certificadas pelo Leed, certificadora que avalia os padrões de construção sustentável, e atividades de conscientização dos consumidores”, afirma. Esse modelo de lojas, que vem sendo seguido pelas redes nas novas construções, emprega tecnologias que permitem economia de energia em relação às tradicionais, vinda de fontes renováveis (o que representa redução nas emissões de carbono), além de reduzir o consumo de água e o impacto ambiental da edificação. Além disso, essas lojas servem de vitrine para os clientes nas práticas de consumo consciente. Pompílio frisa que essa é uma tendência sem volta porque, além de melhorar a imagem da empresa, significa redução de custos e otimização das operações. “O nome do jogo é eficiência”, diz. “É isso que buscamos emtodos os processos.”
Do social para o ambiental: O Carrefour entrou mais recentemente na onda ambiental. Segundo a empresa, a questão social foi um dos seus focos em todo o mundo desde a década de Henrique Manreza 1960, quando foi criada a Fundação Internacional Carrefour, que cuida da melhoria da qualidade de vida nos países em que a rede tem lojas. “Com o passar do tempo, a questão ambiental ganhou corpo, e obviamente o Carrefour colocou o tema no seu planejamento estratégico”, afirma Paulo Pianez, diretor de sustentabilidade. Além dos serviços tradicionais de reciclagem, substituição de sacolas plásticas, venda de produtos orgânicos, o Carrefour afirma que aproveita os trabalhos que já desenvolvia junto a comunidades carentes para desenvolver campanhas de conscientização sobre a importância de economizar água, energia, separar o lixo, evitar desperdício e utilizar linhas diretas de crédito de maneira consciente, evitando dívidas que comprometam as finanças da família. “Desenvolvemos um plano de treinamento para que, nos próximos dois anos, os 45 mil funcionários do Carrefour sejam agentes de mobilização e de educação para o consumo consciente e estejam aptos a dar informações corretas ao consumidor”, afirma Pianez.Segundo explica, esse modelo de treinamento, se der resultado, deverá ser exportado para outros países.
“Ainda falta muito”, dizem especialistas
Para Alberto Sorrentino, diretor da consultoria GS&MD Gouvêa de Souza, a preocupação com a imagem é um fator motivador para as grandes redes investirem em ações de sustentabilidade. E, como o setor é mais organizado e exposto à mídia, acaba puxando inovações nesta área. “Mesmo porque, para o cliente, o consumo consciente começa a fazer diferença”, afirma. Mesmo assim, Sorrentino acredita que ainda falta muito para que uma ou outra empresa se apresente como vitrine para o consumidor. Roberta Cardoso, coordenadora do programa de responsabilidade social e sustentabilidade de varejo da Fundação Getulio Vargas, concorda. “A sustentabilidade é valorizada pelas redes, mas ainda é preciso mudanças mais profundas em relação às escolhas do consumidor”. Ela explica que o problema é inerente ao tipo de negócio. “Se a sustentabilidade implica questionar a utilidade de tudo o que compramos, não se pode exigir do varejo, cuja função é incentivar o consumo, que ele participe de forma neutra dessa discussão”, afirma.
Veículo: Brasil Econômico